Dólar bate em R$ 6,20, apesar de leilões promovidos pelo BC
Analistas de mercado indicam, basicamente, um motivo para explicar a forte alta do dólar à vista nas últimas semanas – e em especial nesta terça-feira (17/12), quando a cotação chegou a R$ 6,20, por volta das 12h10. No caso, trata-se da incerteza provocada pelo quadro fiscal, ou seja, as relações entre gastos e receitas das contas públicas federais.
Na avaliação de Emerson Vieira Junior, responsável pela mesa de câmbio da Convexa Investimentos, os investidores buscam proteção contra esse cenário fiscal e ainda temem eventual “desidratação” do pacote de cortes de despesas, encaminhado pelo governo ao Congresso Nacional. “E o mercado já mostrou que vai comprar o que o Banco Central (BC) oferecer”, diz. “Por isso, a cotação do dólar não cai, apesar dos leilões promovidos nos últimos dias.”
Desde sexta-feira (13/12), o BC realiza leilões de dólares no mercado à vista, com o objetivo de oferecer liquidez à moeda dos Estados Unidos. Na ocasião, foram vendidos US$ 845 milhões. Na segunda-feira (16/12), houve nova oferta de US$ 1,63 bilhão, a maior intervenção dessa modalidade desde o começo da pandemia de Covid-19, em 2020.
Na manhã desta terça-feira (17/12), ocorreu um novo leilão extraordinário de dólares no mercado à vista. O BC informou que aceitou sete propostas totalizaram a venda de US$ 1,272 bilhão, à taxa de R$ 6,1005. A seguir, à tarde, o Banco Central fez nova oferta de US$ 2,015 bilhões.
Busca por liquidez
Embora, na avaliação de analistas, a questão fiscal seja a alavanca para a alta do dólar, os leilões não têm como alvo central, necessariamente, atenuar esses picos. Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, observa que o BC interfere no mercado de câmbio não só para alterar o preço do dólar, mas para reduzir a volatilidade da moeda americana. “Essa prática, alinhada ao que podemos chamar de um ‘manual de política monetária’, busca aliviar o impacto dessa volatilidade em empresas ligadas ao comércio exterior”, diz. “Com menos volatilidade, os custos de hedge (estratégia usada para proteger o investimento) dessas empresas diminuem, o que pode contribuir para reduzir a inflação no país.”
No entanto, afirma Saadia, o mês de dezembro tem características específicas que justificam essas intervenções. “Primeiro, o volume de negócios no mercado cambial diminui significativamente. Muitas mesas de operação estão menos ativas, criando desequilíbrios no fluxo cambial”, diz. “Além disso, há um aumento na demanda por dólares nesta época, tanto por empresas brasileiras — que liquidam contratos de serviços, royalties e fretes — quanto por multinacionais que precisam repatriar lucros ao exterior antes do fechamento do ano fiscal.”
O analista nota que as atuais intervenções ajudaram a conter uma alta ainda maior do dólar, mas a moeda permanece pressionada. “Paralelamente, o cenário fiscal também contribui para essa pressão. Estamos acompanhando a tramitação do pacote fiscal em Brasília, mas a aprovação integral parece improvável no momento”, afirma. “O que se espera é a aprovação apenas do reajuste do salário mínimo, enquanto outros pontos, como abono salarial e mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada), devem ser discutidos no início do próximo ano.”
Preocupação do mercado
Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o mercado acompanha as ações do Banco Central com “preocupação crescente”. “Embora sejam movimentos legítimos para atenuar a volatilidade, a frequência e o volume dessas intervenções sinalizam que há uma pressão estrutural forte sobre o câmbio, reforçando dúvidas quanto à efetividade das medidas diante de fatores internos desfavoráveis”, afirma.
“No cenário interno, o principal fator é o aumento do risco fiscal. As propostas de ajuste anunciadas pelo governo têm sido amplamente criticadas por sua insuficiência para conter a trajetória de crescimento da dívida pública, bem como a real execução do processo na prática”, diz Lima. “Além disso, a proximidade da mudança na diretoria do Banco Central gera incertezas sobre o comprometimento com a meta de inflação, especialmente diante das recorrentes críticas do governo ao Copom (Comitê de Política Monetária).” (Fonte: metrópole)