Lula perde a paciência com o Ibama e acusa o órgão de ser contra o governo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva escalou a pressão que tem feito sobre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na últimas semanas, para que aprove a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, no litoral do Amapá. Ele classificou como “lenga-lenga” a demora em autorizar pesquisas para a prospecção e disse que o órgão parece atuar contra o governo. As declarações provocaram a reação do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e de servidores, que, segundo apurou o Correio, apontam ter havido até interferência direta no processo de licenciamento ambiental. A expectativa é de que o órgão dê um novo parecer sobre o caso no fim deste mês.
“Não é que eu vou mandar explorar, eu quero que seja explorado. Nós temos de pesquisar, ver se tem petróleo”, disse Lula, em entrevista à Rádio Diário FM, de Macapá. O presidente não foi questionado inicialmente sobre o assunto, mas o abordou por vontade própria. “O que não dá é para ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão de governo, parecendo que é um órgão contra o governo”, acrescentou.
Segundo o Ibama, a Petrobras ainda não cumpriu as exigências para proteger a região contra um possível derramamento de óleo, por exemplo, que seria catastrófico para o bioma amazônico.
Nesta quinta-feira, Lula embarca para o Amapá ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), um dos principais defensores da atividade — que pode beneficiar seu estado.
Lula é um defensor da exploração de petróleo, sob o argumento de que trará riqueza ao país. O assunto ganhou força após Alcolumbre assumir a presidência do Senado. Ele levou o tema à sua primeira reunião com o chefe do Executivo, dois dias após a posse, e o petista prometeu avançar com as tratativas.
A exploração do petróleo é defendida, também, pela bancada do Amapá no Congresso, incluindo o líder do governo, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP). Para o estado, a perfuração pode trazer um valor estimado de R$ 10,7 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB), aumento de 62,2%, segundo estimativa do Observatório Nacional da Indústria.
A pressão se intensificou nos últimos dias ante a avaliação do governo de que uma aprovação agora pode mitigar críticas e protestos durante a COP 30, que será realizada em novembro, no Pará.
As declarações de Lula foram vistas no Ibama como interferência política em um processo estritamente técnico, cujo atropelo pode ter consequências graves.