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Distrito de Santo Amaro comemora aniversário

A diretoria do CETRASA – Centro das Tradições de Santo Amaro e a Subprefeitura de Santo Amaro, têm a honra de convidar a todos os santamarenses, autoridades públicas, civis e militares, representantes e dirigentes de entidades da sociedade civil organizada para a Missa Solene em Comemoração ao Aniversário de Santo Amaro, o Abade São Mauro.

A solenidade religiosa será presidida pelo Bispo Diocesano de Santo Amaro, Dom José Negri, realizar-se-á no dia 15 de janeiro de 2024, às 12h00 na Catedral de Santo Amaro.

Mais de um milhão de pessoas passam diariamente pelo Largo Treze de Maio, no coração de Santo Amaro, ponto final de 16 linhas intermunicipais e 77 locais de ônibus. Um total de 3,2 milhões de viagens diárias, o equivalente a 11% de todo o movimento da região metropolitana de São Paulo.

Poucos sabem, mas segundo muitos historiadores, nasceu, provavelmente ali, o povoado mais antigo da região, mais antigo até mesmo que São Paulo.

Em 15 de janeiro, dia do santo que lhe dá o nome, Santo Amaro comemorou 452 anos. Dez dias mais tarde, São Paulo festejava seus 450 anos.

A região, antigamente habitada pelos índios guaianases, é formada por pontos muito conhecidos como a Igreja da Matriz (hoje, Catedral de Santo Amaro), o Largo Treze de Maio, a Praça Floriano Peixoto, a Casa Amarela (antigas prefeitura e subprefeitura), e o mercado velho (atual Casa da Cultura do bairro).

A história deste vilarejo, hoje um imenso bairro paulistano, data do começo do século XVI com os índios e é recheada de vicissitudes ; segue com jesuítas e bandeirantes e passa pela colonização portuguesa e alemã e pela independência da região no século XIX, seguida de sua anexação a São Paulo no século XX.

No início dos tempos, quando chegaram os primeiros guaianases, liderados pelo cacique Cáa-Ubi, Santo Amaro região distante quase 20 quilômetros do centro de São Paulo, situada sobre uma campina a 745 metros acima do nível do Oceano Atlântico e abrigada pela Serra do Mar ao sul era uma mata densa. Exuberantes e selvagens, fauna e flora eram alimentadas por abundantes águas cristalinas. Antes disso, no ano de 1532, as naus de Martin Affonso de Souza chegaram ao litoral paulista e encontraram o português João Ramalho casado com Bartira, filha de Tibiriçá – outro cacique dos guainases, que vivia no aldeamento de Tumiaru, hoje município de São Vicente. Cáa-Ubi nunca confiou nos estrangeiros e decidiu se afastar daquele grande aldeamento – localizado logo depois da transposição da Serra do Mar, onde foi fundada a hoje cidade de Santo André, elevada à vila em 1553 pelo governador geral Thomé de Souza.

O cacique e seus homens entraram pela mata adentro até encontrar o rio Jeribatiba depois denominado Jurubatuba. Hoje os rios paulistanos, já procuraram outros caminhos subterrâneos para continuar sua senda. Uns foram canalizados, outros sumiram, mas apenas dos olhos, pois continuam vertendo no subsolo, onde fluem rápidos, mas sem a pressa dos moradores de cima.

De fato, mal sabem os milhares de transeuntes santamarenses o quanto é rico e fértil o solo que pisam.

Cáa-Ubi fez o assentamento na margem esquerda, construiu suas ocas e fundou o aldeamento de Virapuéra, mais tarde chamado de Ibirapuera, que significa mata grande. Começava, então, a história de Santo Amaro, região para a qual, depois dos índios, seguiram os jesuítas, entre eles impossível não destacar a figura de José de Anchieta.

Naquele remoto tempo, uma imensa planície deserta e desabitada, e mais ao fundo um longo espigão montanhoso, separava o que seria o centro de São Paulo do povoado de Santo Amaro.

Em Cupecê, próximo ao local, o casal João Paes e Suzana Rodrigues, vindo de Portugal com Martin Affonso de Souza, passou a lavrar as terras recebidas por sesmaria, cujo documento original encontra-se hoje no Arquivo Nacional. Devotos, eles guardavam em casa a imagem de Santo Mauro, depois denominado Santo Amaro.

Da aldeia dos índios guaianases à beira do rio Jeribatiba (Jerivá – palmeira que produz cocos e tiba – abundância), na localidade de Ibirapuera (mata grande), a aldeia do cacique Caá-ubi foi fundada a cidade de Santo Amaro.

Em junho de 1556 na Capitania de São Vicente os jesuítas estavam repartidos em três locais determinados pelo Padre Provincial dos Jesuítas – Manoel de Nóbrega: Casa de São Vicente (São Vicente); – Casa de São Paulo da Companhia de Jesus (São Paulo) e Jeribatiba (Santo Amaro), locais onde os jesuítas realizavam trabalhos de catequese e educação de crianças índias e mamelucas.

José de Anchieta vindo do povoado de Piratininga, em uma das várias vezes que visitou a Aldeia de Jeribatiba percebeu que devido ao número de índios catequizados e colonos instalados na região, que era possível constituir ali um povoado, idéia aprovada pelos moradores.

Para tanto se fazia necessário a ereção de uma capela, e para este fim precisava-se de uma imagem a quem esta capela seria dedicada.

Sabia-se que pela região de Cupecê moravam João Paes e sua esposa Suzana Rodrigues, possuidores da imagem de um santo de sua devoção, que ao saberem da proposta de Anchieta da criação de um povoado doaram a imagem de Santo Amaro (imagem até hoje preservada) para a capela “feita de taipa de pilão, não forrada”.

A capela foi erigida em 1560, e neste mesmo ano, Anchieta rezou a primeira missa na região.

Santo Amaro, nasceu em Roma, seu pai pertencia ao Senado Romano, aos 12 anos de idade Santo Amaro foi entregue aos cuidados de São Bento. Se tornando um monge exemplar, logo serviu de exemplos para outros religiosos. Ficou ainda conhecido por salvar São Plácido de um afogamento em circunstâncias milagrosas; se tornou o herdeiro espiritual de São Bento, é atribuído a ele a fundação Instituto Beneditino nas Gálias, famosos pelo ensino e erudição dos seus monges.

Era uma época pioneira marcada por fatos notáveis como os relatos de milagres de José de Anchieta lá na Aldeia de Jeribatiba; dos registros sobre o caminho dos índios guaranis que passando por Ibirapuera ia até a Cidade do Paraguai (Assuncion – no Paraguai) ou ainda da criação em Ibirapuera da do primeiro engenho de ferro do Brasil, com minérios existentes na região, isto em 1606.

Em 1686, o Bispo do Rio de Janeiro D. José E. Barros Alarcão confirma a capela curada em Ibirapuera, distrito de São Paulo, elevando assim o povoado a categoria de freguesia com o nome de Santo Amaro.

E por muito tempo a região será conhecida por diversos nomes indígenas como: Birapuera; Virapuera; Ibirapuera; Geribatiba; Geribativa; Jeribatiba; Santo Amaro de Virapuera; Santo Amaro de Ibirapuera, até que tomasse definitivamente o nome de Santo Amaro.

Santo Amaro onde no século XVII nasceria o célebre bandeirante Manoel de Borba Gato, um caçador de esmeraldas – possuía terra fértil, própria para a agricultura. Cultivava-se farinha de mandioca e de milho, alimentava-se o gado. Nela também abundava o ferro e, assim, no começo de 1600 fundou-se o primeiro engenho do metal, de propriedade de dom Francisco de Souza, Diogo de Quadros e Francisco Lopes. Não durou, contudo, mais de 30 anos, por falta de mão de obra adequada, dificuldades no transporte e a morte de um dos sócios.

Pouco a pouco, a vida em torno da paróquia foi se organizando. O primeiro vigário, padre João de Pontes, só apareceu em 1686, quando Santo Amaro foi elevado à condição de freguesia. Este cotidiano mudaria drasticamente a partir da independência do Brasil.

A necessidade de mão-de-obra mais especializada do que aquela do elemento servil, se fez notar logo após a Proclamação da Independência.

Em 1827, o Visconde de São Leopoldo, ministro do interior, cogitou da fundação de núcleos coloniais paulistas, mandando, para tal fim, proceder trabalhos preparatórios.

Quando na presidência da província de SP, o dr. José Antonio Saraiva, recebeu aviso, datado de 8 de novembro de 1827, determinando que tomasse providencias para o recebimento de colonos estrangeiros (para que fossem devidamente aboletados os imigrantes), que em breve sairiam da Corte.

Logo depois, para que fosse instalado, no rio Negro, então território de SP, o primeiro núcleo colonial oficial.

Em 1828, por meio de uma portaria do ministro do Império José Feliciano Fernandes Pinheiro, visconde de São Leopoldo, nascido em Santos, chegaram os primeiros colonos estrangeiros vindos de Bremen, na Alemanha.

Eles embarcaram na galera holandesa Maria em 1827 e desembarcaram no litoral paulista em 1828. No decorrer do ano seguinte, entraram em SP 149 famílias e 72 pessoas avulsas todos imigrantes alemães que, enviados para Santo Amaro, constituíram a colônia deste nome sob a direção do dr. Justino de Melo Franco. Eram os Forster, Schunck, Hannickel, Helfstein, Klein, Teisen, Klauss, entre outros, que se fixaram na região. Eles adotaram a terra com o seu coração e começaram a impulsioná-la até atingir sua pujança na primeira metade do século XX.

De conformidade com o estipulado em aviso ministerial de 21 de marco de 1827, foi concedido a cada família 400 braças quadradas.

Em 16 de fevereiro de 1829, o conselho da presidência e instruções e cláusulas contratuais elaboradas pelo Conselheiro José Arouche de Toledo Rendon, “do modo como se hão de fazer os engajamentos dos colonos vindos para essa província, estabelecidos na margem do Taquaquecetuba, distrito da freguesia de Santo Amaro, termo na cidade de SP e na capela do rio Negro, termo da vila do Príncipe, comarca de Curitiba.”

Assim, em 1829, ocorre a primeira instalação efetiva de uma colônia de imigrantes alemães no Estado de São Paulo, isto na região de Santo Amaro (Parelheiros ).

Até hoje, e deste ponto de vista, vendo do sul para o norte, que os alemães enxergam a capital de SP. Diferentemente são os descendentes de italianos, que chegaram mais tarde e foram para o nordeste do Estado. Para estes, o mapa da cidade é visto ao contrário. A entrada de SP é no Norte. São os pontos de referência.

Em 1832, Santo Amaro deixou de ser freguesia e foi reconhecido como município. Seu primeiro prefeito foi o capitão e comendador Manoel José de Moraes. A Câmara era composta por sete vereadores – depois, nos anos 50 do século XX, José de Oliveira Almeida Diniz, o “Zé da Farmácia”, que com os seus irmãos administrava a botica e era grande benfeitor do bairro, conhecido por sua generosidade com os pobres, passaria por esta casa sendo eleito duas vezes. Seu nome, para imorredouro registro, esta numa de suas vias de acesso, a avenida Vereador José Diniz.

Logo após a elevação da Freguesia de Santo Amaro a Vila, o que se deu em 1832, na oitava Seção da Câmara Municipal foi “pedido para se edificar a Cadeia, Casa da Câmara, Cemitério,Curral, Açougues e Casinhas”.

A 7 de abril de 1833, cumprindo determinação da Câmara Municipal de São Paulo, reúne-se o eleitorado paroquial, elegendo 7 vereadores para a constituição do legislativo da cidade de Santo Amaro, agora sim desvinculada e autônoma. A partir de então Santo Amaro adquire as feições de uma cidade vigorosa.

A caracterização econômica da Vila de Santo Amaro conforme menciona Azevedo Marques : “a lavoura deste Município é de cereais com que abastece o Município da Capital, assim como exporta madeira, carvão , pedra de cantaria e fabrica algum vinho”.

Em 1835, cria-se a corpo de militares da Guarda Nacional em Santo Amaro, dois de infantaria e um de cavalaria.

A partir daí, Santo Amaro passou por vários momentos históricos.

À mesma altura, Francisco Antonio Chagas, que mais tarde dirigiria o movimento para a criação do município de Santo Amaro, fundou a primeira escola da região.

1841 – Escola Pública.

Um dos alunos era seu filho Paulo Eiró, posteriormente reconhecido como um talentoso e célebre poeta brasileiro e um dos mais ilustres santamarenses.

Na época, também foram fundados o primeiro jornal e a primeira corporação musical.

1868 – Primeiro jornal “Santo Amaro”.

A vida ia se desenvolvendo naquele pacato município.

1885 – Inauguração da iluminação a querosene.

Pouco tempo mais tarde, a tração animal foi substituída por carros a vapor e, em seguida, chegou a Santo Amaro a primeira composição a transitar pela estrada de ferro, que se estendia desde São Paulo por 20 quilômetros.

Com muita festa, os santamarenses receberam a visita dos imperadores do Brasil em 1866.

16 de novembro de 1886, inauguração da linha férrea de São Paulo a Santo Amaro e visita a Santo Amaro pelo Imperador Dom Pedro II e Dna. Leopoldina.

E mais festejos acompanharam a abolição da escravatura e o advento da República.

A população gostava de festejar.

Mas a epidemia da varíola também lhe assaltou, enlutando muitas famílias.

No final do século XIX, construiu-se a primeira Igreja da Matriz (a atual é de 1924) no lugar da capela inicial.

Em 1893, Carlos da Silva Araújo, manifesta na Seção de sua posse na Câmara Municipal: “considerando que a falta de mercado nesta Vila, torna-se vexatória aos seus habitantes, mormente a classe menos favorecida da fortuna. Considerando que desta falta resulta o monopólio dos gêneros de primeira necessidade que são vendidos pelos produtores aos comerciantes, por atacado, com grave prejuízo ao varejo franco ao povo….”

Desta forma foi levado ao estudo o plano de construção de um Mercado Popular na Vila de Santo Amaro, mas mesmo assim foi visto que não era possível a construção imediata e portanto foi criado o Mercado Provisório, passando a funcionar em um “barracão no Largo Municipal”, regulamentando assim as tabelas de preços e impostos sobre os gêneros.

Por aquele tempos também foi fundado o Teatro Pindorama e fez-se a Praça Floriano Peixoto. E Santo Amaro entrou no século XX com seu pacato, tranqüilo e feliz cotidiano formado.

1896 – Jardim Público (atual Praça Floriano Peixoto).

Ainda era uma terra de verdes campos, água cristalina, brisa pura vinda do mar longínquo. A agricultura continuava imperando. Os principais meios de transporte eram os cavalos e as carroças puxadas por bois.

Foi aberto o grupo escolar Grupo Escolar de Santo Amaro – uma bela construção colonial destruída na década de 1970 –, surgiram seminários e conventos.

1910 – Inauguração do prédio do Grupo Escolar de Santo Amaro, denominado posteriormente Grupo Escolar Paulo Eiró (atual Praça dos Mosaicos).

O visconde de Taunay criou o brasão do município com os dizeres “Antiquissimum Genus Paulista Meum” (pertenço à mais velha sociedade paulista). Instalaram os primeiros telefones. Os modernos lampiões a gás foram logo substituídos pela energia elétrica. Os jovens faziam “footing” na praça, sob o olhar atento dos mais velhos. Muitos casamentos que perduram até hoje foram forjados neste vaivém de rapazes e garotas.

Neste ambiente interiorano, em 10 de julho de 1932 o município estava pronto para comemorar seu centenário. Seus edifícios foram ornamentados. O palco do teatro São Francisco foi preparado para receber Rigoletto, ópera de Verdi. A população estava em polvorosa e os festejos se estenderiam por vários dias.

Mas nada disso aconteceu.

Naquele mesmo dia chaegava a notícia : São Paulo pegara em armas para exigir a Constituição ao ditador Getúlio Vargas.

Sem pestanejar, os santamarenses se engajaram na luta, e esqueceram os folguedos. Organizaram a “Companhia Isolada de Santo Amaro”, ao que se sabe, o primeiro contingente que se formou em 32.

Mas o primarismo deste povo custou caro.

Em 21 de fevereiro de 1935, Santo Amaro se deitou município e acordou dia 22 como um pesadelo. Era um bairro de São Paulo.

Decreto Nº 5.983 de 22 de fevereiro de 1935

O Doutor Armando de Salles Oliveira, Interventor Federal no Estado de São Paulo usando das atribuições que lhe são conferidas pelo decreto federal nº 19.398 de 11 de novembro de 1930,

Considerando que dentro do plano geral de urbanismo da cidade de São Paulo, o município de Santo Amaro está destinado a construir um dos seus mais atraentes centros de recreio;

Considerando que para a organização desse plano o Estado tem que auxiliar, diretamente ou por ato da Prefeitura, as finanças de Santo Amaro, tanto que desde já declara extinta sua responsabilidade para com o Tesouro do Estado, proveniente do contrato de 18 de julho de 1931, e que muito onera o seu orçamento e dificulta a sua expansão econômica e cultural;

Considerando que, liquidada essa dívida todas as suas rendas poderão ser aplicadas no seu próprio desenvolvimento;

Considerando ainda que o Estado não só se dispõe a incrementar em Santo Amaro, a construção de hotéis e estabelecimentos balneários que permitam o funcionamento de cassinos, com também já destinou verba para melhorar as estradas de rodagem que servem aquela localidade, facilitando-lhe todos os meios de comunicação, rápida e eficiente com o centro urbano;

Decreta:

Art. 1.º – fica extinto o município de Santo Amaro, cujo território passará a fazer parte do município da Capital, constituindo uma sub-prefeitura, diretamente subordinada à Prefeitura de São Paulo.

Art. 2º – O subprefeito será nomeado pelo Prefeito da Capital com os vencimentos anuais de 24:000$000 (vinte e quatro contos de réis);

Art. 3º – Serão mantidos os direitos dos atuais funcionários da Prefeitura de Santo Amaro, que poderão servir na sub-prefeitura ora, criada, ou ser reaproveitados na Prefeitura da Capital.

Art. 4º – Fica o Tesouro do Estado autorizado a cancelar o adiantamento de 500:000$000 (quinhentos contos de réis); atualmente acrescidos dos juros de 124:658$600 e que foi feito ao município de Santo Amaro em virtude do contrato de 18 de julho de 1931, abrindo-se para esse fim o necessário crédito.

Art. 5º – Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Palácio do Governo do Estado de São Paulo, aos 22 de fevereiro de 1935,

ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA

Valdomiro Silveira

Francisco Machado de Campos

Publicado na Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, em 23 de fevereiro de 1935.

Anexado à cidade de São Paulo, até hoje, há santamarenses que acreditam que tal desventura se deu pela rivalidade após as batalhas de 32. Mas o argumento do governo foi que o município devia 500 contos ao Tesouro do Estado.

Daí por diante, Santo Amaro e São Paulo tem as mesmas histórias.

Começaram a surgir os loteamentos de classe média nas antigas granjas e chácaras. Em 1960, Santo Amaro contava com uma área de 640 quilômetros quadrados habitados por 26 mil pessoas. Pelo menos 10 mil alqueires ainda eram agrícolas e 15% de pastos e campos estavam cultivados com cereais, batatas, frutas, mandioca, fumo, cana e verdura.

Havia 400 estabelecimentos comerciais em Santo Amaro, entre eles, pelo menos açougues, seis alfaiatarias, 15 lojas de tecidos, 60 armazéns, 80 bares. Mas o bairro também se tornou importante pólo industrial, com pelo menos 500 indústrias catalogadas.

Nos anos 70, criaram-se as sub-regiões e Santo Amaro foi fragmentado.

Ainda insatisfeitos com a anexação Santo Amaro à capital, os santamarenses foram às urnas em plebiscito sobre a emancipação, em 15 de setembro de 1985. No entanto, dos 60.383 moradores que votaram, 56.232 rejeitaram a proposta.

De acordo com a Secretaria Municipal Planejamento, atualmente a região de Santo Amaro é composta pelos distritos de Campo Belo, Campo Grande e Santo Amaro, em uma extensão territorial de 37,5 delimitados pelas avenidas Washington Luiz, Nações Unidas Bandeirantes e habitada por 217.282 pessoas.

“Considerando a área do antigo município de Santo Amaro e seus limites anteriores, ela representa 640 km2 ou 45% do território de São Paulo. É habitada por mais de 3,5 milhões de pessoas e representada por mais de 1,6 milhões de eleitores.” Teruo Yatabe, advogado santamerense – ex-superintendente da Distrital de Santo

Esta história desemboca no turbilhão caótico que é hoje o centro do bairro, desfigurado pelas barracas de milhares de camelôs ilegais, pelas pichações, poluição áudio-visual e atmosférica e pelos seus malcuidados edifícios históricos Mas em seu entorno ainda se encontram resquícios dos velhos tempos, com ruas arborizadas e tranqüilas, onde acorrem os pássaros e seus habitantes guardam a memória de Santo Amaro.

É, de fato, um mundo à parte de São Paulo.

É um caleidoscópio, cujo ponto focal pode ser um quadro do artista plástico santo-amarense Júlio Guerra, produzido nas primeiras décadas do século passado, que retrata um mercado velho, o Largo 13 de Maio e a Igreja de Santo Amaro, com pessoas languidamente nas ruas de terra ou em cenas de enterro, como se as horas não passassem.

O texto acima foi extraído do link abbaixo: https://www.migalhas.com.br/drpintassilgo/21295/santo-amaro/historico-da-cidade